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domingo, 30 de junho de 2013

Introdução à Interação Humano-Computador



Definição


Talvez a forma mais usual e intuitiva de se iniciar uma introdução de um assunto seja apresentar definição formal, caso a mesma exista, ou as definições mais aceitas do assunto no meio acadêmico; sendo assim, comecemos com uma definição:

(Hewett at al.) - “Interação humano-computador é uma disciplina interessada no designe, estimativa e implementação de sistemas computacionais interativos para uso humano e com o estudo dos princípais fenomenos envolvendo-os.” [1]


Aparentemente esta é a definição mais utilizada em trabalhos de Interação humano-computador (IHC), além de estar em vários livros utilizados para lecionar disciplinas de IHC. Vamos então olhar um pouco mais claramente o que esta definição atrela à IHC.
Podemos separar a definição em duas partes: “design, estimativa e implementação de sistemas computacionais interativos para uso humano” e “estudo dos principais fenômenos envolvendo-os”. A primeira parte diz respeito a visão e a abordagem da IHC para um sistema; a IHC se preocupa com sistemas que serão usados por seres humanos e com o impacto que o sistema causará na vida de seus usuários; por este motivo, a visão da IHC para construção de um sistema inicia-se no usuário e termina nos aspectos mais abstratos do sistema (figura 1).


Figura1: Abordagem de desenvolvimento de IHC.[2] 



Esta visão de desenvolvimento é oposta a visão utilizadas em outras áreas da computação que iniciam pela parte de abstrata do sistema e se preocupam menos com a interação com usuário, esperando que o usuário se adapte ao sistema e tire o melhor proveito dele.

A segunda parte da definição está relacionada com as consequências do sistema desenvolvido e seu impacto na vida do usuário e na sociedade. Algo amplamente comentado e de certa forma lugar comum é o fato de que a sociedade moderna está fortemente imersa na utilização de tecnologias de informação e comunicação(TIC), mas não só como ferramentas; tal influência chegou a proporções suficientes ao ponto de conseguir mudar diversos aspectos da realidade humana, como desenvolvimento das atividades profissionais e pessoais, produção e alteração cultural, perspectivas individuais, relações sociais, entre muitos outros aspectos. Isso torna o desenvolvimento do TIC algo muito mais sério do que o simples desenvolvimento de ferramentas, pois ao se desenvolver uma nova ferramenta normalmente se altera apenas o modo como uma tarefa é feita, mas não a motivação da realização da mesma, nem o modo de pensar do utilizador da ferramenta, ou a cultura do país que tem acesso a ferramenta. Um exemplo interessante de como um TIC pode afetar diretamente a dinâmica do usuário pode ser visto na passagem da cédula de papel para uma urna eletrônica brasileira. Note que a urna eletrônica brasileira não apresenta nenhum botão de anulação de voto, apesar de apresentar o botão de voto branco; além disso, a maneira utilizada pela interface para anular o voto é bastante anti-intuitiva, pois é necessário colocar um código que não exista para seu voto ser anulado, quando é muito mais intuitivo que se você colocar um código que não existe seria dada uma mensagem de erro e a operação não seria realizada. Sendo assim, a interface da urna eletronica brasileira claramente tenta desestimular o usuário a anular o voto [2]. Na verdade, existem muitos outros exemplos de como as TICs impactam na vida dos usuários, e provavelmente o próprio leitor pode pensar em como alguma TIC alterou sua dinâmica diária - talvez uma rede social, um aplicativo interativo ou tecnologia de suporte em áreas como ensino, saúde e segurança. Com isso deseja-se chegar no seguinte ponto: é responsabilidade do desenvolvedor se preocupar de como o resultado de seu sistema vai impactar na vida do usuário e na sociedade. Algumas das modificações que serão causadas pelo sistema são imprevisíveis e não há muito a ser feito sobre isso (talvez apenas a criação de salvaguardas), mas nas modificações que podem ser previstas deve-se cuidar da melhor forma possível.

Acredito que a definição esteja bem esclarecida agora, então vejamos brevemente alguns tópicos interessantes para a terminar esta introdução.


Importância

A área de IHC se mostra muito importante em diferentes aspectos. Pela introdução, se torna bem claro que uma das principais importâncias são no bem estar do usuário e da sociedade, tendo em mente o respeito a individualidade, cultura e valores dos mesmo, no entanto alguns outros aspectos que podemos citar são:

Prevenção de Acidentes:
Alguns acidentes realmente sérios têm como parcela de culpa interfaces mal planejadas. A nome de exemplos citemos dois:

Three Mile Island accident:  O reator nuclear da usina de energia de Dauphin County, Pennsylvania, sofreu uma fusão parcial. Um dos fatores que agravou o incidente era uma interface mal projetada que induziu ao funcionário a informações conflitantes que implicaram no atraso de algumas horas para o entendimento do problema que estava ocorrendo.

Kegworth air disaster: Queda de um avião e morte de todos os tripulantes, como resultado dos seguintes fatos: ocorrencia da falha de um dos motores, o comandante deveria desligar o motor defeituoso deixando apenas o que estava funcionando ligado, e acidentalmente desligou o motor que estava funcionando, deixando apenas o defeituoso ligado. No entanto, o fato poderia ter sido percebido se não houvesse ocorrido a troca do painel de controle usual por um painel de controle novo; o painel novo apresentava mostradores de vibração dos motores muito pequenos, o oposto da versão anterior do painel; assim, os pilotos não conseguiram identificar a tempo qual o problema que estava acontecendo.

Benefícios Financeiros: O desenvolvimento e a aquisição de um sistema projetado utilizando concepções de IHC são mais custosos, mas garantem maiores benefícios financeiros de ambos os lados, tanto para clientes como para os distribuidores. Empresas que adiquirem esses sistemas aumentam a produção de seus funcionarios, diminuem gastos com treinamentos, e diminuem número de erros. Empresas que fornecem esses sistemas têm menor requisição de suporte técnico e maior satisfação do cliente, resultando em fidelidade do mesmo. Alguns trabalhos abordam o retorno financeiro dessa abordagem.[3]

Usabilidade e Acessibilidade: Muitas pesquisas em IHC são feitas em foco na usabilidade universal e acessibilidade, inclusão de pessoas de todas as faixas etárias, etnias, classes sociais e portadores de deficiências físicas, cognitivas, entre outras.[4]

Além desses, outros campos são estudados pela IHC com o intuito de trazer beneficios aos usuários, como computação social, realidade aumentada, etc.[4]


Área multidisciplinar

Por ultimo, mas não menos importante gostaria de mencionar a multidisciplinariadade da área, pois isso abre a possibilidade de interessados independentes de suas áreas de atuação ou formação profissional de colabolarem na IHC. Hoje os principais participantes de desenvolvimento em IHC são profissonais das áreas de computação, engenharia, psicologia, antropologia, sociologia e ciências da saúde. Todos esse profissionais de diferentes formações devem trabalhar juntamente para atingir objetivos em comum, e chegar a um produto que beneficie a sociedade. Mas talvez algo mais importante é o fato de que qualquer um pode colaborar para o desenvolvimento se tiver real interesse - como foi dito, a maior parte dos segmentos da sociedade moderna (senão todos) de alguma forma interagem com o computador direta ou indiretamente, e como usuário em sua área profissional ou vida pessoal você é um ator da interação humano-computador, podendo contribuir.
Por fim, gostaria de sugerir a leitura da seguinte matéria que, apesar um pouco antiga, menciona criação de um software de screen reader gratuito e livre, por dois desenvolvedores cegos.
http://www.sciencedaily.com/releases/2010/10/101005104450.htm


Diversos tópicos serão trazidos pensando no tema interação humano-máquina em abordagem diferentes da disciplina. Esperamos que consigamos colaborar de algumas forma para o aprendizado do leitor.





Referências:
[1]página especifica da definição: http://old.sigchi.org/cdg/cdg2.html#2_1
página home do ACM SIGCHI: http://sigchi.org
[2]Barbosa, Simone Diniz Juqueir. Interação humano-computador. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
[3]Bias, R. & Mayhem, D. Cost-Justifying Usability. San Francisco, CA: Morgan Kaufmann Publisher, 2005.
[4] Harry Hochheiser & Jonathan Lazar (2007): HCI and Societal Issues: A Framework for Engagement, International Journal of Human-Computer Interaction, 23:3, 339-374

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